Entre luzes, afetos e adoção: uma carta canina

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Querida família,

Desde a adoção, aprendi que o mundo muda de tempos em tempos — e que nem toda mudança vem devagar. Talvez vocês percebam primeiro pelas luzes. Elas piscam diferente, alteram o ritmo da casa e desenham sombras que antes não existiam. Depois vêm os sons: vozes novas, risadas altas, músicas que atravessam paredes, passos que não reconheço. Para vocês, é celebração. Para mim, é um mundo que muda de repente.

Eu não entendo o calendário. Não sei o que é fim de ano, feriado ou comemoração. Mas sinto tudo o que acontece quando a casa se transforma. Meu corpo percebe antes da minha mente. Meu coração responde antes que alguém explique.

A adoção como espaço de segurança

Quando fui adotada, tudo já era novo. Cheiros, rotinas, mãos, horários, regras silenciosas que eu ainda estava aprendendo a decifrar. E, quando as festas chegam, essa adaptação ganha camadas extras. Não é medo — é excesso. Excesso de estímulos, de informações, de expectativas.

Luzes demais cansam meus olhos. Barulho constante mantém meu corpo em alerta. Pessoas entrando e saindo me fazem perguntar, em silêncio, se esse espaço continua sendo seguro. Às vezes, fico mais quieta. Outras vezes, mais agitada. Não porque não estou feliz, mas porque estou tentando me regular.

Entre visitas e silêncios, eu observo

Talvez vocês estranhem quando eu me escondo em um canto, quando recuso comida, quando observo tudo de longe. Mas isso também é comunicação. É o meu jeito de dizer: estou sentindo muito ao mesmo tempo.

Ser um pet adotado significa carregar histórias que nem sempre aparecem. Meu corpo lembra de mudanças abruptas, de ambientes instáveis, de momentos em que precisei me proteger. Então, quando a casa muda rápido demais, meu sistema inteiro tenta entender se essa mudança é passageira — ou se tudo vai se perder de novo.

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O que me ajuda, mesmo nos dias mais intensos, é reconhecer algo familiar. Um olhar que me procura no meio da sala cheia. Um tom de voz que permanece calmo. Um cantinho que continua sendo meu. A rotina que, mesmo flexível, não desaparece por completo.

Vocês não precisam me isolar do mundo nem silenciar a alegria. Só precisam me incluir com presença. Me observar, me respeitar, me permitir ir e vir sem cobrança. Às vezes, ficar perto, ou às vezes, ficar quieta. Às vezes, apenas existir no mesmo espaço, sem expectativas.

Quando vocês desaceleram, eu desacelero junto. Ao perceberem meus sinais, meu corpo relaxa. Quando entendem que afeto não é excesso de toque, mas constância, eu me sinto segura.

As festas passam. As visitas vão embora. As luzes se apagam. O que fica é a forma como vocês me acompanharam durante tudo isso. É ali que o vínculo se fortalece.

A adoção não termina no dia em que cheguei. Ela acontece todos os dias, especialmente quando o ambiente muda e vocês escolhem me ouvir, mesmo quando eu não uso palavras.

Um pedido simples, de quem ama

Se eu pudesse pedir algo neste fim de ano, seria simples: que vocês celebrem sem me esquecer. Que lembrem que eu sinto antes de entender. Que saibam que o amor, para mim, mora nos detalhes — no respeito ao meu tempo, ao meu espaço e à minha sensibilidade.

Com carinho,
Seu pet.

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